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Infidelidade e Perdão



►Infidelidade no Casamento

Infidelidade no Casamento: 
O Papel do Perdão
Uma das dores emocionais mais devastadoras é a de ter sido traído pelo cônjuge. Isto porque quando se casa por amor o vínculo afetivo formado ao longo do namoro, noivado e casamento é muito forte e o nível de confiança depositado no cônjuge passa a ser um dos mais profundos nas relações humanas. Quando ocorre a infidelidade, quebra-se muita coisa e o perdão se faz necessário em algum momento no futuro. Vamos pensar sobre isto.
Qualquer pessoa, religiosa ou não, está sujeita à paixões afetivas. Quando ela é religiosa, o compromisso de fidelidade é assumido não só para com o cônjuge, mas para com Deus também. Ocorrendo adultério, além da quebra da fidelidade com o companheiro(a), ocorre também a quebra do relacionamento com Deus. Claudia Bruscagin, psicoterapeuta familiar, com doutorado em Psicologia Clínica pela PUC-SP e professora no Curso de Especialização em Terapia Familiar e de Casal do Núcleo de
Família e Comunidade da PUC-SP, diz, no livro “Religiosidade e Psicoterapia”, Editora Roca, p.59 e 60, 2008: “No contexto religioso, a infidelidade parece denunciar uma falta de compromisso não somente com o casamento, mas também com Deus, com a religião e seus preceitos. Para o casal religioso, a reconstrução do relacionamento após um caso de infidelidade exige que não somente a dinâmica da relação seja revista, mas também a interação de cada um dos membros do casal com Deus, pois o perdão de Deus é tão importante quanto o perdão do cônjuge traído.”
Cada cônjuge tem um papel quanto ao perdão ao ocorrer a infidelidade. O do traído é oferecer o perdão, o do traidor é buscá-lo. Claudia comenta: “Ambos devem avaliar seu relacionamento e restaurar a relação, mudando o que erraram e acima de tudo perdoando verdadeiramente.” Mas o que é o perdão verdadeiro? Depende dos sentimentos? Depende de esquecer o fato?
É muito importante entender que o perdão cura a pessoa que perdoa. Viver ressentido é viver com a dor agarrada em você. A palavra “ressentimento” significa “re-sentir”, ou seja, sentir de novo. O perdão interrompe sentir a dor contínua. Quando você perdoa, a dor vai embora e você se sente melhor, mesmo que o perdão não possa produzir o restabelecimento do relacionamento interrompido pela quebra da fidelidade e confiabilidade na vida do casal. Claudia cita M. Pereyra, doutor em Psicologia (Argentina), autor de um livro sobre o perdão: “A única forma de curar a dor que não se cura por si mesma é o perdão à pessoa que o magoou. O perdão cura a memória ao trabalhar a mudança de pensamentos. Aquele que vive remoendo sua dor pode ser mais prisioneiro que o agressor e, ao perdoar, liberta-se da prisão.” (p.60)
Ainda citando Pereyra: “… perdoar não é passar por cima dos próprios sentimentos, ou simplesmente ‘dar a outra face’. É um processo longo e dolorido, pois é um ato voluntário de renúncia ao direito legítimo de estar ressentido, de julgar negativamente o ofensor ou agressor e demonstrar uma atitude de compaixão e generosidade para com ele, apesar de não merecer. Perdoar não é a negação dos sentimentos de mágoa, ira e rancor. É reconhecer os sentimentos e então escolher não agir por eles. Também significa que os maus sentimentos podem voltar e que talvez seja preciso perdoar mais de uma vez.” (p.60,61)
Diz-se que quem perdoa, esquece. Na verdade, quem perdoa genuinamente, primeiro lembra, analisa, desabafa a dor, depois trabalha para esquecer por decisão consciente de fazer isto.
Perdoar não é desculpar o erro da pessoa. Claudia explica: “A desculpa ocorre quando há a compreensão de que a pessoa não é culpada pelo que fez.” Você não desculpa no sentido de tirar a culpa, porque ela é real. Procura perdoar escolhendo fazer isto independente do sentimento porque “o perdão não é um sentimento, é uma escolha.” Escolha de não cultivar a mágoa contra a pessoa que machucou você. (p.61)
Há ritmo e estágios diferentes para cada um viver o processo de perdoar. Se alguém der um sôco no seu rosto, produzirá uma marca visível na pele. Pode sangrar, fica roxo, inchado, etc. e a cura desta pancada demora um tempo, se você perdoou o agressor ou não. Algo parecido ocorre no processo de cura da dor da “pancada” da traição. Claudia fala de estágios para se alcançar o perdão: mágoa, rancor, cura e reconciliação. O primeiro passo é reconhecer os sentimentos e assumi-los. Ela afirma que na fase de reconciliação em casos de infidelidade (ou outros) é importante que o cônjuge que traiu, se quiser seguir na reconciliação: (1)Aceite sua responsabilidade pelo ocorrido; (2)expresse sincero pesar e arrependimento; (3)de alguma forma ofereça compensação conveniente; (4)prometa não repetir a conduta, e (5)peça perdão. (p.61)
Ela conclui: “Na reconciliação, quando possível, o ofendido convida a pessoa que o machucou de volta para sua vida. Se o outro vem honestamente, o amor pode atuar e juntos podem desenvolver um novo relacionamento. Esse estágio depende tanto da pessoa a ser perdoada quanto da que perdoa; às vezes a pessoa não volta e é preciso se curar sozinho.” (p.61)
Dr. Cesar Vasconcellos de Souza
www.portalnatural.com.br

PERDÃO NÃO É DE GRAÇA
Partes 1 a 7 - O que é perdoar? É esquecer? É para pessoas fracas? Perdão é algo de graça? O que se ganha e o que se perde com ele? Será o perdão algo grátis que distribuímos por aí como os indivíduos que ficam entregando folhetos de propaganda nos semáforos? Existe limite para perdoarmos? Há situações em que não cabe o perdão? Perdoar é algo para fracos e dependentes? Quem perdoa esquece? Ou lembra para resolver bem? Viver com mágoa, sem perdoar, adoece a pessoa que não perdoa? O que envolve o perdão? Um cônjuge traído tem que perdoar e tem que reconciliar-se com o adúltero? O que se perde com dar o perdão e o que se perde com não oferece-lo? E o que se ganha? É o perdão algo injusto em certos casos, como perdoar um estrupador de crianças, um marido/esposa que repetidas vezes trai, ou políticos que roubam sistematicamente até serem provados culpados numa CPI honesta?
Quando alguém comete um ato abusivo contra você, como furtar algo seu, agredi-lo com palavras ou fisicamente, quando trai sua confiança seja no casamento ou em outro tipo de relacionamento em que a confiabilidade é fundamental, quando mente para você, tudo isto produz uma perda. Quando um cônjuge trai seu sonho de comunhão agradável, quem sabe porque é imaturo o suficiente para não saber amar, por ser impulsivo e autoritário, dependente ou independente demais, frio ou pegajoso, onde fica o perdão? O que ele promove quando praticado? Amadurece a pessoa faltosa? Muda o outro a quem se perdoou?
O perdão não muda necessariamente a pessoa ofensiva que foi perdoada. Em alguns casos espetaculares de perdão, o ofensor pode decidir mudar para melhor pelo impacto exercido sobre sua consciência como resposta do perdão imerecido recebido. O amor do perdoador pode constrangir o ofensor e neste constrangimento ele pode decidir mudar para melhor.
Mas há pessoas que não se importam se são ou não perdoadas. Elas simplesmente não se importam. Continuam em seus erros seguidamente ou com frieza para com a justiça, a verdade e o bom senso, ou com arrogância, prepotência, ironia, e sem a mínima emoção de remorso. Algumas delas são pessoas com transtorno de personalidade. Podem ser também pessoas muito dominadas pelas suas emoções e desejos mais instintivos e primitivos. Elas repetem os erros porque querem obter o que desejam de qualquer maneira. No mundo político e em pessoas que se viciam em romances e paixões isto é comum.
O perdão não muda a pessoa que o recebeu porque ela pode não estar interessada nele, mas sim no objeto de seu desejo que pode ser superficial, ou pode ser profundo, mas geralmente obsessivo a ponto do indivíduo ficar cego e agir possuído pelo desejo que pode ser saudável, como obter afeto de alguém, mas que muitas vezes se torna numa busca irracional. Nestes casos ela não se preocupa com o perdão que é oferecido pela vítima a quem ela machucou, mas em ter o que quer, custe o que custar. Isso é fruto de uma mente adoecida.
Mas o perdão oferecido gratuitamente pode ser um ingrediente importante para que a pessoa ofensiva, em algum momento da vida, reflita sobre seus erros, os reconheça, admita que errou, aceite o perdão, e obtenha serenidade. Isso é fruto de uma mente saudável. No próximo artigo continuo estas considerações.

Perdoar tem um preço. Algo é perdido porque houve alguma transgressão, surgindo a necessidade de perdão. Nada é de graça nesta vida. Alguém tem que pagar um preço, mesmo das “amostras grátis”. Tudo tem um custo. Dentro da visão cristã, Jesus pagou o preço do perdão oferecido à humanidade culpada e injusta com Sua humilhação, Seus sofrimentos e Sua morte. Se um assassino recebe perdão e anistia mesmo após algum tempo na cadeia, ele cometeu um crime e isto significa que houve uma perda. Alguém sofreu com o erro desse cara. Alguém foi machucado por ele. O erro dele custa um preço para o Estado, sua prisão tem um custo financeiro, emocional, espiritual. Todos perdem com a violação das leis da vida e da Natureza. Mesmo quem lucra com a desgraça dos outros, paga o preço da consciência culpada, ainda que esta culpa seja jogada para o porão da consciência e a pessoa, aparentemente se mostre feliz. É falsa felicidade. Não tem graça.
“Se um agressor pretende ser simplesmente perdoado por exigência ou porque sua vítima é uma pessoa cristã, mas [se este agressor] não fez nada para merecer o perdão, isso é injusto e, em muitos casos, um jeito sutil para continuar abusando das vítimas.” Miguel Ángel Núñez, Ph.D., “Violência e Perdão”, Sinais dos Tempos, CPB, p.33, série “Quebrando o Silêncio”.

Houvi muitas histórias de pessoas sofrendo assim, ao viverem com pessoas abusivas e manipuladoras que mentem com a Bíblia nas mãos, jurando inocência, e com a alma inundada de culpa, mentira e domínio do mal, possuídas e acorrentadas por seus próprios desejos obsessivos insaciáveis de romance, dinheiro, sexo, status, poder.

Há cônjuges culpados de comportamentos como infidelidade conjugal, pornografia, mentiras, os quais manipulam o(a) companheiro(a) com apelos, tais como, dizendo que se a vítima é cristã, ela deve perdoar. Isto não é movido pelo arrependimento do ofensor, mas pela maldosa manipulação egocêntrica para se esconder atrás do biombo da vergonhosa vida de prazeres. E mantém o mesmo comportamento abusivo indefinidamente. A única coisa que eles fazem em busca do perdão é esta manipulação e promessas furadas de mudança que nunca ocorrem.

Perdoar tais pessoas e manter relacionamento com elas como se tudo estivesse bem, é violação da justiça, é anti-cristão, é um abuso contra a verdade e o bom senso, é injustiça. Perpetua o problema. O Jesus que eu conheço diz para estes abusadores:
“Eu perdôo você, mas vá, não cometa mais esse pecado, tire essa máscara hipócrita da sua vida e seja decente.”

O perdão dEle não é condicional, mas o recebimento das positivas influências do perdão não é absorvido e aproveitado pelo ofensor enquanto mantiver a máscara da hipocrisia que esconde as práticas perversas e um coração não arrependido. É como um presente que você ganhou mas que nunca abriu o embrulho e o guardou no armário da frieza do coração duro que engana, inclusive a si mesmo. É impossível enganar os outros sem enganar a si mesmo. Quem trai, trai a si mesmo. Não existe pecado não perdoável desde que haja o pedido de perdão.

Além disso, há o arrependimento egoísta que é aquele que o ofensor diz sentir, sem perceber que se arrepende pelo que perdeu e não pelo que fez de errado. Arrependimento correto é quando você sente nojo de si mesmo pela maldade cometida e decide não mais repeti-la porque isto é o correto. Ponto.

A vítima tem que tomar uma decisão de colocar um limite firme para os abusos destas pessoas manipuladoras, pois esta é a única forma delas poderem parar com os abusos, se quiserem isto, admitir que perderam o controle, e aceitar ajuda. Mesmo assim, diante de limites firmes, alguns continuam na prática do mal. Isto, então, exige um afastamento, pelo menos, da vítima desse abusador. No próximo artigo continuo estas considerações.



Quando você perdoa não dá para não ter uma perda. A traição conjugal é ao mesmo tempo um sintoma de problemas sérios no casamento, revela talvez que a vítima não conseguia suprir algo que o infiel precisava, como também revela a fraqueza moral do traidor. E o indivíduo não conseguia suprir tanto por limitações pessoais, temporárias ou não, como pelo fato de o traidor poder não ter oferecido espaço para receber o que queria e que acabou buscando fora.

Mas a perda é imensa, e para todos. Mesmo que o infiel tente se reconciliar, admitindo o erro, houve uma perda. Há um preço. O perdão não será de graça. Nada é como antes. A ferida talvez precisará de muito tempo para ser curada, se for curada. E talvez deixe cicatrizes que não desaparecerão. Este é um preço do perdão. Há outros.

Há ofensores que têm imensa dificuldade de pedir perdão mesmo reconhecendo seu erro. Isto é comum em pessoas coléricas, autoritárias, agressivas verbalmente. Elas tendem a minimizar a dor do ofendido, classificando-o como sensível demais. Talvez o ofendido seja sensível demais mesmo, mas isto não anula o fato de que a pessoa autoritária tenha usado e costume usar palavras e jeito de falar agressivos, ríspidos, grosseiros. Uma coisa não elimina a outra.

Há casais que vivem 10, 20, 30 ou mais anos juntos e o que não é colérico ou “pavio curto” sabe que o explosivo raríssimas vezes pediu perdão por suas faltas. A tendência, na verdade, destas pessoas agressivas é de dar sempre justificações pelas suas explosões temperamentais. Elas até podem começar a esboçar um pedido de perdão, mas quase sempre colocam após um 
“Me perdoe, eu perdi o controle”palavras como “mas você fez isso...”, e voltam a atacar. Isto é no mínimo injusto. E parece uma baita defesa contra o orgulho, ou pode ser insegurança de admitirem que elas têm fraquezas de caráter, porque em geral tais pessoas autoritárias se acham deuses, sendo prepotentes. E admitir que se é humano pode ser humilhante demais para elas. Que pena. Deve ser estressante tentar ser deus quando se é apenas humano!

Dr. Núñez cita o caso de um homem empresário que abandonou a cidade onde vivia e mudou-se para outro lugar para começar tudo do zero porque sua esposa super ciumenta, num certo dia, tomada por ira, golpeou-se no banheiro a si mesma, batendo a cabeça na parede até sangrar. Depois foi na delegacia e denunciou o marido por violência doméstica. A polícia o prendeu e depois de ter sido provado que ele era inocente, graças ao testemunho de um dos filhos que viu a cena escondido num ambiente da casa, foi absolvido no julgamento. Ele sente que ela destruiu a vida dele e quando lhe perguntaram sobre perdoá-la, ele disse: 
“Creio no perdão, mas é difícil superar a raiva que tenho dela. Ela me acusou falsamente. Perdi amigos, clientes e até a confiança da minha família. Como posso perdoar?”

O que é o perdão? Ele não é uma varinha mágica que pode solucionar todos os problemas rapidinho. Não é um pó do qual você faz uma bebida instantânea e tudo está ótimo em seguida. A Bíblia fala sobre não deixar o sol se por sobre sua ira. Mas eu costumo pensar que este dia pode não ser de 24 horas literais! Imagine se você na hora de dormir tem um atrito grave com seu marido ou com sua esposa. As emoções sobem e surge o emburramento, palavras agressivas, e muita chateação. Dá para resolver tudo antes de dormirem? Terão que fazer as pazes rapidinho para “cumprir a lei”? Ou cada um terá necessidade de um tempo para reconciliar? Vamos ver o conceito de perdão no próximo artigo.

O que é perdoar? O que é o perdão? C.S. Lewis disse: “Ser cristão é perdoar o imperdoável, porque Deus perdoou o imperdoável em você.” (Philip Yancey, “Maravilhosa Graça”, Editora Vida, p.64, 2006). Perdão é exercer graça, misericórdia, compaixão pelo ofensor. É oferecer isto ao culpado. Deus é perdão e Ele oferece perdão pelo que Ele é e não pelo que nós somos, porque não merecemos perdão.(ver Atos 5:31 na Bíblia) Precisamos dele. Nosso maior merecimento, é nossa grande necessidade de perdão.
Perdão depende da graça e a graça é um poder que, entre outras coisas, favorece e dá perdão. Yancey diz: “Graça significa que não há nada que possamos fazer para Deus nos amar mais...E a graça significa que não há nada que possamos fazer para Deus nos amar menos.” (idem, p.71). A graça não é justa e, de fato, ela não trata da justiça. Assim com o perdão. Ele é um dom que recebemos, se o queremos e o pedimos. Não é justo perdoar certos ofensores se considerarmos a ofensa e o machucado que ela provocou. Se basearmos o perdão na justiça, nunca poderemos aplicá-lo na maioria dos casos. A justiça e a misericórdia precisam andar juntas, se não ninguém aguenta. Se for só justiça, vira legalismo e frieza. Se for só misericórdia, vira sentimentalismo e tudo termina em pizza, mas a brasa está por debaixo do pó de serra da alma. Em algum momento ela vai queimar a pele da consciência e das relações humanas. Justiça sem misericórdia e misericórdia sem justiça é injustiça.
Perdão depende de arrependimento, e arrependimento depende de perceber o erro cometido e não mais justificá-lo, dando desculpas para ele. Não há cura sem isto. Tanto o ofensor como o ofendido necessitam de libertação. O culpado se liberta quando admite seu erro, se arrepende, pede perdão e não mais repete o mesmo erro. A vítima se liberta quando perdoa e não mais guarda rancor dentro de si.
Claudia Bruscagin, Ph.D., psicóloga professora da PUC-SP, diz:“O perdão, do ponto de vista religioso, só pode ocorrer com a graça divina, pois humanamente é impossível perdoar por completo uma traição, ofensa, agressão, ou injúria.”(“Religiosidade e Psicoterapia”, Editora Roca, pág.60, 2008). Ela cita Mario Pereyra, doutor em psicologia na Argentina, que afirma que perdoar, entretanto, não é passar por cima dos próprios sentimentos, ou simplesmente “dar a outra face”. Trata-se de um processo demorado e doloroso. Claudia ainda diz que o perdoar“é um ato voluntário de renúncia ao direito legítimo de estar ressentido, de julgar negativamente o ofensor ou agressor e demonstrar uma atitude de compaixão e generosidade para com ele, apesar de não merecer.” (idem)
Uma pessoa traída pelo cônjuge, seja porque não recebeu o que esperava de afeto no casamento, ou seja porque seu cônjuge se envolveu com outra pessoa, pode sentir imensa raiva e por um tempo longo. Esta raiva pode produzir afastamento físico e/ou emocional e este é um outro preço para o perdão. Traidores muitas vezes querem uma reconciliação rápida, após admitirem a besteira que fizeram. Mas precisam entender que agora há um preço a ser pago pelos seus atos: o cônjuge traído ficou machucado e seus sentimentos ficaram no mínimo confusos. E isto pode gerar afastamento, distância afetiva, que provoca solidão. O preço que o culpado arrependido precisa pagar é curtir sua solidão e angústia e esperar pelo tempo que o outro necessitará para ter a ferida, que o ofensor produziu, curada. Isto pode ser o vale da sombra da morte para o ofensor, porque o ofendido também estará no mesmo tipo de vale, pela perda da confiança num tipo de relacionamento humano em que a confiança é como o oxigênio para se viver. Tiraram o oxigênio e houve sufocamento da alma. E, ao contrário do que é dito no início dos vôos em aviões de carreira, máscaras de oxigênio NÃO cairão automatica e facilmente diante de sua face. A cura da dor tem um ritmo, um processo e um tempo. Continuo a descrever o perdão no próximo artigo.


“O perdão é dolorosamente difícil e, muito tempo depois de você perdoar, a ferida continua na lembrança. ... Por trás de cada ato de perdão jaz uma ferida de traição, e a dor de ser traído não se desvanece facilmente.” (Philip Yancey, “Maravilhosa Graça”, Editora Vida, p.86 e 87, 2006). É fácil um padre, monge, madre, rabino, sacerdote muçulmano, líder maçônico, chefe de centro espírita, gurú budista ou pastor, falar de perdão no seu sermão. Mas perdoar é mais difícil do que as palavras dizem. Na palavra “perdoar” tem a parte que diz “doar”. Você doa, de graça, algo a alguém que não merece. Ou você recebe o que não merece, o perdão, mesmo sendo culpado.
Claudia Bruscagin, professora da PUC-SP diz: “Perdoar não é a negação dos sentimentos de mágoa, ira e rancor. É reconhecer os sentimentos e então escolher não agir por eles.” (“Religiosidade e Psicoterapia”, Editora Roca, p. 60, 2008). Perdoar tem que ver com escolha. Mas e os sentimentos de dor? Escolher perdoar os elimina?
O tempo cura. Mas nessa cura pode haver, e em geral há, mudanças profundas no relacionamento entre as pessoas envolvidas. Uma pessoa traída, pode precisar de anos de restabelecimento emocional para se recompor da tragédia e voltar a viver com serenidade. É como você jogar uma pedra num lago sereno e formar múltiplas ondas. As ondas se formam, não porque o lago é malvado, mas porque ele responde à uma lei da Natureza. Um coração partido não se recompõe rapidinho com qualquer “band-aid” religioso ou não.
Immaculée Ilibagiza, sobrevivente do genocídio (mortandade por guerra entre tribos e raças diferentes) em Ruanda, África, viveu noventa dias com mais sete mulheres escondidas num banheiro pequeno para não serem trucidadas, perdoou os algozes que mataram seus pais e irmãos com facões e armas de fogo, sendo que um dos assassinos partiu o crâneo de seu irmão que havia feito um Mestrado, dizendo, ironica e diabolicamente que queria ver o que havia no cérebro de uma pessoa com Mestrado. Ela disse: “É impossível prever quanto tempo levará um coração partido para se recompor.” (“Sobrevivi para Contar”, Editora Objetiva)
Um marido muito cristão e fiel à esposa que havia sido traído por ela, me contou que durante uns dois anos não conseguia nem pensar no nome dela ao orar. Era muita dor, tristeza, decepção e raiva. Havia chorado muito em solidão. Emagrecera como sinal da dor na alma. Cientistas especialistas em estresse afirmam que a infidelidade conjugal é o número dois numa escala que mostra o que produz mais estresse emocional em humanos. O número um é a morte do cônjuge que se ama.
Este homem, rendendo-se à graça e podendo respirar depois de tanta dor que oprimia o espírito, começou a pensar em orar pela esposa. Passaram-se mais alguns meses e ele Começou a tocar no nome dela com Deus em suas preces. Mais meses adiante, foi levado pelas ondas da graça a desejar o bem dela. Já podia pensar nisto, após uma anestesia afetiva.
Isto mostra que há um “timing”, ou tempo necessário, para cada pessoa viver o processo do perdão após uma ofensa. Quanto mais devastadora foi a ofensa e quanto mais importante significado emocional havia no relacionamento entre a pessoa e o ofensor, maior a ferida e maior o tempo necessário para sua cura. Cada um tem um ritmo de cura.
Cura não significa que após o perdão tem que haver reconciliação. Alguns casos não há porque o ofensor foi longe demais ou porque ele não se interessa pela humilhação necessária para tratar a ferida ou porque a ferida destruiu a sustentação do relacionamento semelhante a um prédio abalado por um tremor que tem sua estrutura condenada pela Defesa Civil para a segurança de todos. Deus teve que destruir os antediluvianos porque eles não aceitaram o perdão e chegaram a um ponto de não-volta, de não-arrependimento, de não-perdão. Eles queriam prazer, mas não perdão, porque ficaram movidos pelas emoções, dominados pelos demônios da vaidade, da carnalidade, da mundanidade.
Nem todo ofensor quer cura do seu câncer emocional pessoal, mas egocentricamente pode querer cura do relacionamento. Perdoar não é desculpar os erros da pessoa. Também não é esquecer. Você pode lembrar, mas escolhe não mais se concentrar nisto. A desculpa existe quando se comprova que o ofensor é inocente. Mas para o ofensor real, a culpa é real. E ela tem um preço assim como o perdão. Continuo no proximo artigo.Perdoar é um ato de fé. “Perdoando outra pessoa, estou confiando que Deus é um juiz melhor do que eu. Perdoando, abandono meus próprios direitos de me vingar e deixo toda a questão da justiça nas mãos divinas. Deixo nas mãos de Deus a balança que deve pesar a justiça e a misericórdia.” (Philip Yancey, “Maravilhosa Graça”, Editora Vida, p. 95, 96, 2008).
O perdão não é de graça. Quem perdoa tem que pagar o preço de abandonar seu desejo de fazer justiça com suas próprias mãos. É isto fácil? De jeito nenhum! Envolve grande risco porque o ofensor pode não demonstrar arrependimento e permanecer abusivo. Ou se interromper o ciclo de abusos, pode não admitir para o ofendido seus erros. Como conviver com uma realidade em que o ofensor não admite seus erros, não pede perdão, não quer tocar no assunto, quer viver como se tudo estivesse legal e como se não tivesse ocorrido um trauma muito doloroso?
Claudia Bruscagin, Ph.D. da PUC-SP, diz que num caso de traição conjugal, se o cônjuge que traiu desejar dar passos para uma reconciliação, ele precisa: (1)Aceitar a responsabilidade pelo ocorrido; (2)expressar sincero pesar e arrependimento;(3)oferecer alguma recompensa de alguma forma; (4)prometer não repetir o mesmo erro, e (5)pedir perdão. (“Religiosidade e Psicoterapia”, Editora Roca, p. 61, 2008). Eu acrescento: não só prometer não repetir mais o mesmo erro, mas NÃO repetir mesmo! Verdadeiro arrependimento é mais do que pesar pelo erro cometido. É um decidido afastamento dele.
Miguel Ángel Núñez, Ph.D., diz que o perdão é menos difícil quando os agressores se arrependem de verdade e fazem tudo para redimir os atos de violência e agressões. Quando não há isto, só um milagre da graça pode mudar a situação. Só quem vive uma situação como vítima de abuso, traição, violência é que sabe que dor é esta. “É fácil falar quando não se está vivendo a dor de ser agredido por alguém que diz que nos ama.” (“Violência e Perdão”, p.32, Sinais dos Tempos, da série “Quebrando o Silêncio”).
Não se deve coagir uma pessoa para perdoar. Isto é algo pessoal. É uma decisão pessoal. É resultado de um processo. Há um preço. Não é de graça. Após uma ofensa a pessoa precisa de um tempo para se recompor. O perdão tem que ser algo espontâneo. Você pode perdoar genuinamente e não querer reconciliação com o ofensor. É um direito seu.
Abusadores podem querer reconciliação sem assumirem as responsabilidades pelos erros. Isto é injusto e não cabe no perdão. Estas pessoas ficam fissuradas com medo de perder (o que já perderam na verdade) e querem que a vítima reata o relacionamento rapidinho como se tudo fosse uma questão de minutos e de um pequeno curativo, quando há sangramento na ferida. O preço neste caso é pago pelo tolerar a solidão e o afastamento devido aos erros cometidos. Um deserto ensina muito para as pessoas abertas para aprender ao atravessá-lo.
Dr. Núñez também explica que há uma diferença entre arrependimento e remorso.“Remorso é medo das represálias ou consequências legais pela ação realizada. Em vez disso, quem se arrepende vive de outra maneira.” (idem). Ou seja, muda.
O perdão não é de graça porque ele não livra a pessoa dos resultados de seus atos. O povo de Israel foi perdoado, porém, de cerca de dois milhões de pessoas que andaram pelo deserto após saírem do Egito, somente duas entraram na Terra Prometida. Havia um preço. “Aquele que maltrata outra pessoa física, sexual ou psicologicamente, tem que assumir as consequências de seu ato; caso contrário, o perdão não terá sentido nem significado. Perdoar não é passar por alto as consequências das agressões. Isto é injustiça. O perdão bíblico é sempre um ato realizado num contexto de justiça. Em nenhuma parte é um ato isento de responsabilidade. Seria confundir perdão com impunidade, e não é isso o que a Bíblia apresenta. ...Não se pode viver num contexto de rancor. Mas é importante entender que o perdão tem seu tempo de desenvolvimento, é pessoal e, em muitos casos, um milagre.” (Miguel Ángel Núñez, idem).
Depois de sermos perdoados, precisamos lidar com as consequências de nossos atos. Pode levar tempo para que possamos terminar de sofrer as consequências negativas de nossos pecados passados. Termino essa série no próximo artigo.
“O perdão é dolorosamente difícil e, muito tempo depois de você perdoar, a ferida continua na lembrança. ... Por trás de cada ato de perdão jaz uma ferida de traição, e a dor de ser traído não se desvanece facilmente.” (Philip Yancey, “Maravilhosa Graça”, Editora Vida, p.86 e 87, 2006). É fácil um padre, monge, madre, rabino, sacerdote muçulmano, líder maçônico, chefe de centro espírita, gurú budista ou pastor, falar de perdão no seu sermão. Mas perdoar é mais difícil do que as palavras dizem. Na palavra “perdoar” tem a parte que diz “doar”. Você doa, de graça, algo a alguém que não merece. Ou você recebe o que não merece, o perdão, mesmo sendo culpado.
Claudia Bruscagin, professora da PUC-SP diz: “Perdoar não é a negação dos sentimentos de mágoa, ira e rancor. É reconhecer os sentimentos e então escolher não agir por eles.” (“Religiosidade e Psicoterapia”, Editora Roca, p. 60, 2008). Perdoar tem que ver com escolha. Mas e os sentimentos de dor? Escolher perdoar os elimina?
O tempo cura. Mas nessa cura pode haver, e em geral há, mudanças profundas no relacionamento entre as pessoas envolvidas. Uma pessoa traída, pode precisar de anos de restabelecimento emocional para se recompor da tragédia e voltar a viver com serenidade. É como você jogar uma pedra num lago sereno e formar múltiplas ondas. As ondas se formam, não porque o lago é malvado, mas porque ele responde à uma lei da Natureza. Um coração partido não se recompõe rapidinho com qualquer “band-aid” religioso ou não.
Immaculée Ilibagiza, sobrevivente do genocídio (mortandade por guerra entre tribos e raças diferentes) em Ruanda, África, viveu noventa dias com mais sete mulheres escondidas num banheiro pequeno para não serem trucidadas, perdoou os algozes que mataram seus pais e irmãos com facões e armas de fogo, sendo que um dos assassinos partiu o crâneo de seu irmão que havia feito um Mestrado, dizendo, ironica e diabolicamente que queria ver o que havia no cérebro de uma pessoa com Mestrado. Ela disse: “É impossível prever quanto tempo levará um coração partido para se recompor.” (“Sobrevivi para Contar”, Editora Objetiva)
Um marido muito cristão e fiel à esposa que havia sido traído por ela, me contou que durante uns dois anos não conseguia nem pensar no nome dela ao orar. Era muita dor, tristeza, decepção e raiva. Havia chorado muito em solidão. Emagrecera como sinal da dor na alma. Cientistas especialistas em estresse afirmam que a infidelidade conjugal é o número dois numa escala que mostra o que produz mais estresse emocional em humanos. O número um é a morte do cônjuge que se ama.
Este homem, rendendo-se à graça e podendo respirar depois de tanta dor que oprimia o espírito, começou a pensar em orar pela esposa. Passaram-se mais alguns meses e ele Começou a tocar no nome dela com Deus em suas preces. Mais meses adiante, foi levado pelas ondas da graça a desejar o bem dela. Já podia pensar nisto, após uma anestesia afetiva.
Isto mostra que há um “timing”, ou tempo necessário, para cada pessoa viver o processo do perdão após uma ofensa. Quanto mais devastadora foi a ofensa e quanto mais importante significado emocional havia no relacionamento entre a pessoa e o ofensor, maior a ferida e maior o tempo necessário para sua cura. Cada um tem um ritmo de cura.
Cura não significa que após o perdão tem que haver reconciliação. Alguns casos não há porque o ofensor foi longe demais ou porque ele não se interessa pela humilhação necessária para tratar a ferida ou porque a ferida destruiu a sustentação do relacionamento semelhante a um prédio abalado por um tremor que tem sua estrutura condenada pela Defesa Civil para a segurança de todos. Deus teve que destruir os antediluvianos porque eles não aceitaram o perdão e chegaram a um ponto de não-volta, de não-arrependimento, de não-perdão. Eles queriam prazer, mas não perdão, porque ficaram movidos pelas emoções, dominados pelos demônios da vaidade, da carnalidade, da mundanidade.
Nem todo ofensor quer cura do seu câncer emocional pessoal, mas egocentricamente pode querer cura do relacionamento. Perdoar não é desculpar os erros da pessoa. Também não é esquecer. Você pode lembrar, mas escolhe não mais se concentrar nisto. A desculpa existe quando se comprova que o ofensor é inocente. Mas para o ofensor real, a culpa é real. E ela tem um preço assim como o perdão. Continuo no proximo artigo.



Perdoar é um ato de fé. “Perdoando outra pessoa, estou confiando que Deus é um juiz melhor do que eu. Perdoando, abandono meus próprios direitos de me vingar e deixo toda a questão da justiça nas mãos divinas. Deixo nas mãos de Deus a balança que deve pesar a justiça e a misericórdia.” (Philip Yancey, “Maravilhosa Graça”, Editora Vida, p. 95, 96, 2008).
O perdão não é de graça. Quem perdoa tem que pagar o preço de abandonar seu desejo de fazer justiça com suas próprias mãos. É isto fácil? De jeito nenhum! Envolve grande risco porque o ofensor pode não demonstrar arrependimento e permanecer abusivo. Ou se interromper o ciclo de abusos, pode não admitir para o ofendido seus erros. Como conviver com uma realidade em que o ofensor não admite seus erros, não pede perdão, não quer tocar no assunto, quer viver como se tudo estivesse legal e como se não tivesse ocorrido um trauma muito doloroso?
Claudia Bruscagin, Ph.D. da PUC-SP, diz que num caso de traição conjugal, se o cônjuge que traiu desejar dar passos para uma reconciliação, ele precisa: (1)Aceitar a responsabilidade pelo ocorrido; (2)expressar sincero pesar e arrependimento;(3)oferecer alguma recompensa de alguma forma; (4)prometer não repetir o mesmo erro, e (5)pedir perdão. (“Religiosidade e Psicoterapia”, Editora Roca, p. 61, 2008). Eu acrescento: não só prometer não repetir mais o mesmo erro, mas NÃO repetir mesmo! Verdadeiro arrependimento é mais do que pesar pelo erro cometido. É um decidido afastamento dele.
Miguel Ángel Núñez, Ph.D., diz que o perdão é menos difícil quando os agressores se arrependem de verdade e fazem tudo para redimir os atos de violência e agressões. Quando não há isto, só um milagre da graça pode mudar a situação. Só quem vive uma situação como vítima de abuso, traição, violência é que sabe que dor é esta. “É fácil falar quando não se está vivendo a dor de ser agredido por alguém que diz que nos ama.” (“Violência e Perdão”, p.32, Sinais dos Tempos, da série “Quebrando o Silêncio”).
Não se deve coagir uma pessoa para perdoar. Isto é algo pessoal. É uma decisão pessoal. É resultado de um processo. Há um preço. Não é de graça. Após uma ofensa a pessoa precisa de um tempo para se recompor. O perdão tem que ser algo espontâneo. Você pode perdoar genuinamente e não querer reconciliação com o ofensor. É um direito seu.
Abusadores podem querer reconciliação sem assumirem as responsabilidades pelos erros. Isto é injusto e não cabe no perdão. Estas pessoas ficam fissuradas com medo de perder (o que já perderam na verdade) e querem que a vítima reata o relacionamento rapidinho como se tudo fosse uma questão de minutos e de um pequeno curativo, quando há sangramento na ferida. O preço neste caso é pago pelo tolerar a solidão e o afastamento devido aos erros cometidos. Um deserto ensina muito para as pessoas abertas para aprender ao atravessá-lo.
Dr. Núñez também explica que há uma diferença entre arrependimento e remorso.“Remorso é medo das represálias ou consequências legais pela ação realizada. Em vez disso, quem se arrepende vive de outra maneira.” (idem). Ou seja, muda.
O perdão não é de graça porque ele não livra a pessoa dos resultados de seus atos. O povo de Israel foi perdoado, porém, de cerca de dois milhões de pessoas que andaram pelo deserto após saírem do Egito, somente duas entraram na Terra Prometida. Havia um preço. “Aquele que maltrata outra pessoa física, sexual ou psicologicamente, tem que assumir as consequências de seu ato; caso contrário, o perdão não terá sentido nem significado. Perdoar não é passar por alto as consequências das agressões. Isto é injustiça. O perdão bíblico é sempre um ato realizado num contexto de justiça. Em nenhuma parte é um ato isento de responsabilidade. Seria confundir perdão com impunidade, e não é isso o que a Bíblia apresenta. ...Não se pode viver num contexto de rancor. Mas é importante entender que o perdão tem seu tempo de desenvolvimento, é pessoal e, em muitos casos, um milagre.” (Miguel Ángel Núñez, idem).
Depois de sermos perdoados, precisamos lidar com as consequências de nossos atos. Pode levar tempo para que possamos terminar de sofrer as consequências negativas de nossos pecados passados. Termino essa série no próximo artigo.“O perdão cura a pessoa que perdoa. Talvez não possibilite a cura do relacionamento interrompido, mas curará a vida do perdoador. ...O perdão é a única forma de que dispomos para curar a mágoa. ...é a única forma de que dispomos para sermos mais justos em um mundo injusto...O perdão faz com que a dor pare de se repetir. ...A única forma de curar uma dor que não se cura por si mesma é o perdão à pessoa que o magoou.” (Claudia Bruscagin, Ph.D.,PUC-SP, “Religiosidade e Psicoterapia”, Editora Roca, p.60, 2008).
A filósofa judia Hannah Arendt disse que o único remédio para a inevitabilidade da história é o perdão. Caso contrário as disputas e guerras continuam. Yancey conta que um rabino que imigrou para os Estados Unidos disse: 
“Antes de vir para a América, precisei perdoar Adolf Hitler. Eu não queria trazer Hitler dentro de mim para meu novo país.” (Philip Yancey, “Maravilhosa Graça”, Editora Vida, p.104, 2006). Isto porque quem não perdoa fica preso ao passado. Continua sofrendo. Por isso a primeira pessoa que se beneficia do perdão é quem perdoa.
O perdão é um ato de misericórdia porque pode aliviar o peso opressivo de culpa de quem ofendeu. Mas não é algo fácil. Jesus mesmo pagando o preço da nossa culpa, sentiu o peso deste preço e chegou a pedir ao Pai para que afastasse o cálice que Ele devia tomar como prova do perdão para com a humanidade. Suar sangue foi um dos preços que Ele pagou pelo perdão. Receber cusparada no rosto, chicotadas no corpo, tapas nas costas, socos na cabeça, pregos nos pulsos e pés, coroa de espinhos da cabeça perfurando a fronte, lança no peito abrindo uma ferida, e finalmente a morte numa cruz, tudo foram preços do perdão. O perdão não é de graça.
Philip Yancey explica que o perdão coloca 
“o perdoador do mesmo lado de quem cometeu o erro. Por meio disso, percebemos que não somos tão diferentes do culpado como gostaríamos de pensar.” (idem, p.100). O potencial de maldade está dentro de todos nós.
Vingar não funciona. Lewis Smedes comenta: 
“A vingança é uma paixão de acerto de contas. É um desejo ardente de devolver tanto sofrimento quanto alguém lhe infligiu. ... O problema com ela é que nunca alcança o que deseja; nunca chega ao empate. A justiça nunca acontece. A reação em cadeia iniciada por cada ato de vingança sempre segue o seu curso desimpedida. Ela amarra ambos, o injuriado e o injuriador, a uma escada rolante de sofrimento. Ambos são impedidos de prosseguir na escada quando se exige paridade, e a escada não para nunca, nunca deixa ninguém descer.” (Yancey, idem, p.120).
O perdão parece injusto e é, porque o culpado real é perdoado, mas é a única forma de interromper a revolta e o abismo. A política lida com direitos dos países, fronteiras geográficas, riquezas de um povo, crimes, leis, poder, corrupção. Mas o perdão genuíno lida com o mal no coração das pessoas, coisa que a política não tem poder de mudar.
O teólogo Paul Tillich disse que o perdão é algo que tem que ser lembrado para que possa ser esquecido. Por isso, creio que quem perdoa, lembra. Pensa no que houve, não finge que não doeu ou que não está doendo. Admite a dor, a raiva, o fato, expressa isso de forma saudável e depois, aí sim, esquece porque passou pelo processo que o perdão é.
O perdão não é de graça. Mas a graça leva ao perdão e liberta o ciclo de sofrimento. Pelo menos do que depender de quem decide perdoar. O resto é com o ofensor. Não existe erro ou pecado não perdoável desde que haja o pedido de perdão.
Perdoar é um ato de fé. “Perdoando outra pessoa, estou confiando que Deus é um juiz melhor do que eu. Perdoando, abandono meus próprios direitos de me vingar e deixo toda a questão da justiça nas mãos divinas. Deixo nas mãos de Deus a balança que deve pesar a justiça e a misericórdia.” (Philip Yancey, “Maravilhosa Graça”, Editora Vida, p. 95, 96, 2008).
O perdão não é de graça. Quem perdoa tem que pagar o preço de abandonar seu desejo de fazer justiça com suas próprias mãos. É isto fácil? De jeito nenhum! Envolve grande risco porque o ofensor pode não demonstrar arrependimento e permanecer abusivo. Ou se interromper o ciclo de abusos, pode não admitir para o ofendido seus erros. Como conviver com uma realidade em que o ofensor não admite seus erros, não pede perdão, não quer tocar no assunto, quer viver como se tudo estivesse legal e como se não tivesse ocorrido um trauma muito doloroso?
Claudia Bruscagin, Ph.D. da PUC-SP, diz que num caso de traição conjugal, se o cônjuge que traiu desejar dar passos para uma reconciliação, ele precisa: (1)Aceitar a responsabilidade pelo ocorrido; (2)expressar sincero pesar e arrependimento;(3)oferecer alguma recompensa de alguma forma; (4)prometer não repetir o mesmo erro, e (5)pedir perdão. (“Religiosidade e Psicoterapia”, Editora Roca, p. 61, 2008). Eu acrescento: não só prometer não repetir mais o mesmo erro, mas NÃO repetir mesmo! Verdadeiro arrependimento é mais do que pesar pelo erro cometido. É um decidido afastamento dele.
Miguel Ángel Núñez, Ph.D., diz que o perdão é menos difícil quando os agressores se arrependem de verdade e fazem tudo para redimir os atos de violência e agressões. Quando não há isto, só um milagre da graça pode mudar a situação. Só quem vive uma situação como vítima de abuso, traição, violência é que sabe que dor é esta. “É fácil falar quando não se está vivendo a dor de ser agredido por alguém que diz que nos ama.” (“Violência e Perdão”, p.32, Sinais dos Tempos, da série “Quebrando o Silêncio”).
Não se deve coagir uma pessoa para perdoar. Isto é algo pessoal. É uma decisão pessoal. É resultado de um processo. Há um preço. Não é de graça. Após uma ofensa a pessoa precisa de um tempo para se recompor. O perdão tem que ser algo espontâneo. Você pode perdoar genuinamente e não querer reconciliação com o ofensor. É um direito seu.
Abusadores podem querer reconciliação sem assumirem as responsabilidades pelos erros. Isto é injusto e não cabe no perdão. Estas pessoas ficam fissuradas com medo de perder (o que já perderam na verdade) e querem que a vítima reata o relacionamento rapidinho como se tudo fosse uma questão de minutos e de um pequeno curativo, quando há sangramento na ferida. O preço neste caso é pago pelo tolerar a solidão e o afastamento devido aos erros cometidos. Um deserto ensina muito para as pessoas abertas para aprender ao atravessá-lo.
Dr. Núñez também explica que há uma diferença entre arrependimento e remorso.“Remorso é medo das represálias ou consequências legais pela ação realizada. Em vez disso, quem se arrepende vive de outra maneira.” (idem). Ou seja, muda.
O perdão não é de graça porque ele não livra a pessoa dos resultados de seus atos. O povo de Israel foi perdoado, porém, de cerca de dois milhões de pessoas que andaram pelo deserto após saírem do Egito, somente duas entraram na Terra Prometida. Havia um preço. “Aquele que maltrata outra pessoa física, sexual ou psicologicamente, tem que assumir as consequências de seu ato; caso contrário, o perdão não terá sentido nem significado. Perdoar não é passar por alto as consequências das agressões. Isto é injustiça. O perdão bíblico é sempre um ato realizado num contexto de justiça. Em nenhuma parte é um ato isento de responsabilidade. Seria confundir perdão com impunidade, e não é isso o que a Bíblia apresenta. ...Não se pode viver num contexto de rancor. Mas é importante entender que o perdão tem seu tempo de desenvolvimento, é pessoal e, em muitos casos, um milagre.” (Miguel Ángel Núñez, idem).
Depois de sermos perdoados, precisamos lidar com as consequências de nossos atos. Pode levar tempo para que possamos terminar de sofrer as consequências negativas de nossos pecados passados. Termino essa série no próximo artigo.


“O perdão cura a pessoa que perdoa. Talvez não possibilite a cura do relacionamento interrompido, mas curará a vida do perdoador. ...O perdão é a única forma de que dispomos para curar a mágoa. ...é a única forma de que dispomos para sermos mais justos em um mundo injusto...O perdão faz com que a dor pare de se repetir. ...A única forma de curar uma dor que não se cura por si mesma é o perdão à pessoa que o magoou.” (Claudia Bruscagin, Ph.D.,PUC-SP, “Religiosidade e Psicoterapia”, Editora Roca, p.60, 2008).
A filósofa judia Hannah Arendt disse que o único remédio para a inevitabilidade da história é o perdão. Caso contrário as disputas e guerras continuam. Yancey conta que um rabino que imigrou para os Estados Unidos disse: “Antes de vir para a América, precisei perdoar Adolf Hitler. Eu não queria trazer Hitler dentro de mim para meu novo país.” (Philip Yancey, “Maravilhosa Graça”, Editora Vida, p.104, 2006). Isto porque quem não perdoa fica preso ao passado. Continua sofrendo. Por isso a primeira pessoa que se beneficia do perdão é quem perdoa.
O perdão é um ato de misericórdia porque pode aliviar o peso opressivo de culpa de quem ofendeu. Mas não é algo fácil. Jesus mesmo pagando o preço da nossa culpa, sentiu o peso deste preço e chegou a pedir ao Pai para que afastasse o cálice que Ele devia tomar como prova do perdão para com a humanidade. Suar sangue foi um dos preços que Ele pagou pelo perdão. Receber cusparada no rosto, chicotadas no corpo, tapas nas costas, socos na cabeça, pregos nos pulsos e pés, coroa de espinhos da cabeça perfurando a fronte, lança no peito abrindo uma ferida, e finalmente a morte numa cruz, tudo foram preços do perdão. O perdão não é de graça.
Philip Yancey explica que o perdão coloca “o perdoador do mesmo lado de quem cometeu o erro. Por meio disso, percebemos que não somos tão diferentes do culpado como gostaríamos de pensar.” (idem, p.100). O potencial de maldade está dentro de todos nós.
Vingar não funciona. Lewis Smedes comenta: “A vingança é uma paixão de acerto de contas. É um desejo ardente de devolver tanto sofrimento quanto alguém lhe infligiu. ... O problema com ela é que nunca alcança o que deseja; nunca chega ao empate. A justiça nunca acontece. A reação em cadeia iniciada por cada ato de vingança sempre segue o seu curso desimpedida. Ela amarra ambos, o injuriado e o injuriador, a uma escada rolante de sofrimento. Ambos são impedidos de prosseguir na escada quando se exige paridade, e a escada não para nunca, nunca deixa ninguém descer.” (Yancey, idem, p.120).
O perdão parece injusto e é, porque o culpado real é perdoado, mas é a única forma de interromper a revolta e o abismo. A política lida com direitos dos países, fronteiras geográficas, riquezas de um povo, crimes, leis, poder, corrupção. Mas o perdão genuíno lida com o mal no coração das pessoas, coisa que a política não tem poder de mudar.
O teólogo Paul Tillich disse que o perdão é algo que tem que ser lembrado para que possa ser esquecido. Por isso, creio que quem perdoa, lembra. Pensa no que houve, não finge que não doeu ou que não está doendo. Admite a dor, a raiva, o fato, expressa isso de forma saudável e depois, aí sim, esquece porque passou pelo processo que o perdão é.
O perdão não é de graça. Mas a graça leva ao perdão e liberta o ciclo de sofrimento. Pelo menos do que depender de quem decide perdoar. O resto é com o ofensor. Não existe erro ou pecado não perdoável desde que haja o pedido de perdão.
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